sábado, 12 de agosto de 2017

UMA BREVE ANÁLISE ACERCA DA DIALÉTICA MICRO/MACRO NA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Trataremos no ensaio sobre o texto A Dialética Micro/Macro na Sociologia da Educação, encomendado para o GT Sociologia da Educação da ANPEd em 2000, produzido por Zaia Brandão, lotada no Departamento de Educação da PUC-Rio, publicado em um dos mais importantes periódicos da FCC - Fundação Carlos Chagas, o Cadernos de Pesquisa, em Julho 2001. O objetivo da abordagem é trazer de maneira mais acessível e sintética a análise feita pela autora acerca da dialética micro/macro em referência à produção dos estudos sobre a sociologia da educação, bem como esclarecer a interação/relação/diferença entre micro e macrossociologia na produção científica no passado e na atualidade. Zaia Brandão organizará o seu texto em 5 partes, são elas: INDIVÍDUO E SOCIEDADE, A TENSÃO BÁSICA NA SOCIOLOGIA; AS BASES EPISTEMOLÓGICAS DAS ORTODOXIAS E SUA SUPERAÇÃO; O NOVO MOVIMENTO TEÓRICO SEGUNDO JEFFREY C. ALEXANDER; AS TRADIÇÕES NA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO e DA REDUÇÃO À LIGAÇÃO: SUPERANDO OS MONISMOS METODOLÓGICOS. A abordagem será dada de maneira individualizada acerca de cada área citada acima, facilitando assim o melhor entendimento sobre o que é proposto. Então, podemos saber, que a autora trará como proposta central um panorama da constituição das tradições e escolas que fundamentam essas perspectivas concorrentes - a perspectiva da análise microssocial e a perspectiva da análise macrossocial - na interpretação dos fenômenos sociais e sua defesa acerca da superação aos antagonismos teórico-metodológicos entre as abordagens micro e macrossociológicas. É compreensível na análise proposta por Zaia - aceitável, inclusive -, que não há de ser possível executar uma análise conceitual sobre uma parte sem se considerar o todo, ou, analisar o todo sem se considerar a parte. É exatamente por isso que ela irá definir esse momento do texto como: indivíduo e sociedade, a tensão básica na sociologia. Há análises que abordam o uso metodológico microssocial, ou seja, buscam nos indivíduos respostas para como se dá seu papel e o modo como é seu comportamento frente à sociedade. Há também, em contrapartida, os que analisem a sociedade para essa mesma compreensão, ou seja, os que optam por uma análise mais estrutural, então, acerca da macrossociologia. Ora, é lógico que a análise empírica acaba se tornando frágil, ou, somente hipotética, mais distante do real, quando se pretende destacar, e aqui estou me referindo somente ao campo da sociologia, a parte do todo, ou o todo da parte, para verificar informações antes não traduzidas. A escolha pelas palavras "indivíduo e sociedade" e "tensão básica", pretende mostrar essa relação: como falar sobre o indivíduo sem se considerar a sociedade? E como falar em sociedade sem se considerar o indivíduo? Torna-se quase impossível, ou até mesmo leviano, pensar em tal possibilidade se houver intenção em verificar idoneamente questões de suma importância, como por exemplo, análises acerca da educação e acerca do (as) desenvolvimento/relações inerentes ao convívio social. Já sobre as bases epistemológicas das ortodoxias e sua superação, Zaia se apoiará sobre as novas sociologias (Corcuff, 1995) e o novo movimento teórico (Alexander, 1987), onde ambos tendem a superar esse modelo clássico de análise - de análise somente microssocial ou somente macrossocial - e defender que o coletivo é individual e que os níveis microssociais constroem gradativamente padrões de ações e representações que se consubstanciam em estruturas de níveis macrossociais. Isto é, uma nova sociologia que fosse capaz de elucidar tanto os processos que fossem das estruturas sociais às interações, como das interações às estruturas sociais. Com efeito, adequando essa nova base teórica para análise, quer seja da interação, quer seja das estruturas sociais, anula-se então àquelas bases ortodoxas, e com toda razão, que já se mostraram ultrapassadas na avaliação científica, como por exemplo: analisar do lado de "dentro" da cena, ou seja, mais próximo do objeto; analisar através de uma visão panorâmica, ou seja, de "fora da cena". Para isto, há de superar, porém, o olhar existente sobre a reprodução dos papéis e posições sociais, bem como, supondo a incomensurabilidade do social, descarta as tentativas de teorização mais geral sobre a sociedade. De acordo com a autora, que agora se apoiará em Jeffrey C. Alexander para defender o novo movimento teórico, a sociologia precisava, urgentemente, definir um novo modelo teórico, pois, em virtude de seu caráter multiparadigmático, as argumentações e teorias anteriores sempre se encontram divididas entre escolas e tradições ortodoxas. Com efeito, dá-se então, na atualidade, um enorme conflito entre teorias, um enorme conflito entre práticas de análises empíricas, dificultando e, caminhando na contramão, no que tange o avanço sobre as questões que deveriam ser primordiais no estudo sobre sociologia, mais precisamente, sobre a sociologia da educação, que é o que nos interessa aqui. No texto proposto por Zaia, essa abordagem se dá na seção o novo movimento teórico segundo Jeffrey C. Alexander. É ainda nessa seção que poderemos saber sobre a multiplicação das perspectivas microssociais, dada, após a Segunda Guerra, em virtude do insucesso parsoniano ao tentar compatibilizar o idealismo e o materialismo, a ação voluntária e a determinação estrutural. É então a partir daí que torna-se possível analisar a teoria das trocas, para Homans, onde o comportamento individual desenvolveu-se independentemente de normas sociais definitivas, pois as condições sociais objetivas articulam-se à vida cotidiana, produzindo situações a partir das quais os atores desenvolvem os seus cálculos e orientam suas ações no mundo social; já no interacionismo simbólico, para Blumer, os significados resultam das relações sociais que se estabelecem em cada circunstância (em razão das reações do outro), e o que define as atitudes são as imagens, significados, sinais e linguagens que interagem na definição das situações em que se encontram os atores sociais; para a etnometodologia, defendida por Garfinkel, sabe-se do desenvolvimento a partir de uma inovação metodológica (etnometodologia) que se pretendia mais adequada ao conhecimento de como os atores constroem suas próprias normas em situações (culturais) específicas do cotidiano e com o recurso à linguagem. Em contrapartida, existem os defensores das perspectivas macrossociais, os "teóricos do conflito", que por não reconhecerem a ligação entre ação e cultura, ou, agente e estrutura, acabam fugindo da complexidade que existe envolta no processo das relações e das transformações sociais. Acerca da "nossa casa", quando a autora trata de falar sobre as tradições na sociologia da educação no Brasil, fica claro a hegemonia das teorias macrossociais nos estudos produzidos desde os anos 60 até os anos 80. Bastante tímida, se deu nos anos 50/60, uma escolha, motivada pela Escola de Chicago, pelos estudos microssociais, que foram desenvolvidos pelo CBPE - Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, mas, logo esse terá seu fechamento decretado, o que limitará por aí essa adesão da parte dos pesquisadores. O que se manterá forte no Brasil, nas décadas de 60 e 70, será a presença de uma análise voltada para o espelhamento da estratificação social na estrutura do sistema escolar, motivados pelo uso demasiado de dados demográficos e indicadores socioeconômicos para interpretar o caráter antidemocrático da escola brasileira. É a partir de 1982 que isso muda um pouco, porém não com muita força, quando o INEP - Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos encomenda um estudo - à própria Zaia Brandão - sobre a evasão e repetência no Brasil. Não ganhando muitos adeptos dispostos a articular as questões micro e macrossociais, segue ainda muito pouco abordada essa perspectiva, mas não ausente, como tanto desejaria o neoliberalismo e suas estratégias políticas, visto que, se torna muito mais aceitável manipular dados empíricos através das análises macrossociais. Com efeito, a ligação entre as relações micro e macro estão se tornando cada vez mais atraentes aos pesquisadores, o que parece ser um excelente resultado, bem como ser prova de que algumas teorias precisam de um certo amadurecimento para se comportarem e atuarem como devem. Acerca disso, adentraremos ao último nível do texto escrito por Zaia: da redução à ligação: superando os monismos metodológicos. É aqui que estará visível não uma defesa demasiada à microssociologia, nem ao desuso da macro, mas, uma conclusão onde podemos identificar que há uma real necessidade em romper com o monismo e acreditar que há, contudo, uma necessidade em unir o elo entre micro e macro, bem como na utilização da diversificação entre métodos, pois, o mundo da experiência possui uma capacidade inesgotável de recriar e construir novas formas de interações.