domingo, 18 de março de 2018

FAVELA: nossa mistura.

É melhor tirar o seu cavalinho da chuva, pessoa covarde, porque aqui não vamos criticar a favela e os seus habitantes.

Na verdade, o objetivo é desconstruir o seu discurso fétido, mentiroso e cruel contra todo tipo de favela.

Que você tem ódio isso não é novidade alguma, e por isso mesmo vamos falar na sua linguagem para que, assim, quem sabe, você entenda.


Primeiro, pare de falar da favela e do seu funcionamento como se você entendesse dela! O máximo que você pode fazer é criar hipóteses e se aproximar de um fenômeno ou outro.

Segundo, pare de adjetivar o que acontece na favela e quem vem de dentro dela: você será infeliz sempre que tentar caracterizar o nosso modo de vida!

Terceiro, olhe para o seu apartamento vizinho e veja que não seria nada incomum você encontrar gente violenta, criminosa e covarde: a diferença é que o seu vizinho sempre teve a condição de escolher entre isto ou aquilo.

Quer saber como é a favela? Nasça dentro dela, more dentro dela por vários anos seguidos, conheça os moradores da favela, saiba o nome das pessoas mais antigas, sinta a solidariedade que é exclusivamente típica a este local.

Doar ou emprestar uma xícara de açúcar e um botijão de gás aqui não é hipocrisia, mas sim sinônimo de uma legítima preocupação com o próximo.

Pegue o seu discurso de intervenção e leve para dentro do seu condomínio. Tenho certeza que, se investigados, desembargadores, juízes, delegados e outros sujeitos especiais e idolatrados por vocês seriam presos e pagariam o preço da punição pelo cometimento de ilícitos cruéis.

Falar de intervenção para a favela é fácil: não é você que terá a sua casa invadida, vasculhada; não é você que corre o risco de ter a sua mãe, esposa e filha estuprada; não é você que terá de assistir a cena em que o seu pai ou o seu irmão serão torturados porque estão desempregados e não têm o ensino superior e nem um magistratura na conta.

Você é um insensível, e pessoas insensíveis são más, desprezíveis, arruinadas!

Promova intervenção no seu condomínio e a mesma maconha que você critica será encontrada em peso, não só um "baseadinho", mas em quantidade o suficiente para lucrar bastante entre os boys and girls da high society.

Não me venha falar que na favela tem gente que não presta: esse território, meu compadre, é aquilo que foi deixado de lado há anos, muitos anos; a sua reivindicação, portanto, é pífia!

Tá pensando que aqui temos leite Parmalat e queijo gorgonzola? Rola, de vez em quando, uma mussarela e olhe lá! Então, não venha nos apontar dedinhos porque não sabemos falar francês ou alemão e os garfos do seu restaurante nos são estranhos!

Tá pensando que aqui a NET chega sem que a fatura nos preocupe? Está muito enganado! A net gato que rola aqui é de propriedade do seu vizinho, esse sonegador de impostos e pagador de baixíssimos salários, fato que nos impede de pagar a mesma assinatura que você!

E não venha nos ofender enquanto estiver nos atendendo na UPA ou no TRT: você acha que não queríamos estar trabalhando assim como vocês? O problema é que na nossa escola não tinha merenda, professores e nem ar condicionado. Motorista e viagem aos EUA como intercâmbio, então, nem pensar!

Pegue a sua moral e distribua entre os seus pares, todos sinônimos, porque para a favela isso não passa de falsidade.

Não me venha falar de favela se você nunca precisou temer chegar em casa; não me venha falar de favela se você nunca se envergonhou de levar seus amigos na sua casa porque o almoço era contado; não me venha falar de favela se na sua casa a parede ou o telhado nunca foram perfurado por tiros de fuzil!

Tá pensando que gostamos de viver aqui? Então troque de lugar conosco e veja seus amigos morrendo, sendo presos ou perdendo o futuro para o álcool e para a droga!

Quer mesmo falar de favela? Então pegue essa sua boca suja e limpe-se desse mau-caratismo antes de falar o nosso nome; seja um antropólogo honesto; viva conosco; se esconda da bala perdida junto conosco; sofra violência do Estado junto conosco. Aí, quem sabe, você possa começar a pensar o que significa a favela.

O seu projeto social aqui na favela está servindo para obter histórias absurdas que depois serão contadas à mesa de jantar da sua casa ou no boteco do Leblon, modificando em nada a realidade, criando falsas expectativas às pessoas que nunca vão chegar aqui nessa favela!

"Rapá", para falar de favela; seja a favela e não um expectador dela!

Tá pensando que somos invisíveis? Cale-se que sabemos muito bem falar por nós!

Seu mané!

#MariellePRESENTE

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